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24 ago

O Atlético-MG quer erguer o estádio com o melhor custo-benefício – e está quase lá

O plano atleticano não depende nem do poder público, nem de financiamentos. Depois de tantos estádios problemáticos no país, enfim um projeto pode dar certo

Depois de tantos estádios problemáticos construídos ou reformados no ensejo da Copa do Mundo de 2014, o Atlético-MG quer ser o primeiro clube a erguer uma arena própria do zero sem se esfolar. Daniel Nepomuceno, presidente atleticano, deu os primeiros passos: estudou referências estrangeiras, encontrou parceiros para financiar parte da construção e abriu seus planos publicamente. Falta convencer pelo menos dois terços do Conselho Deliberativo alvinegro, em reunião marcada para 18 de setembro, a lhe dar autorização para seguir adiante. A ambição pessoal do cartola é levantar um estádio que pare em pé – no sentido literal, óbvio, e no financeiro, o mais difícil, o que quase nenhum adversário conseguiu até aqui.

Nepomuceno não quer seguir por nenhum dos modelos escolhidos por clubes na última década. Alguns, como Atlético-PR e Corinthians, decidiram manter seus estádios sob seu domínio e se endividaram além da conta. Outros, como Palmeiras e Grêmio, cederam a operação de suas arenas a empresas privadas, respectivamente as construtoras WTorre e OAS, com as quais têm relações problemáticas. O Internacional optou por um modelo quase híbrido: não se endividou, manteve o estádio sob seu controle, mas cedeu áreas nobres para a empreiteira Andrade Gutierrez, portanto não tem direito de usufruir todas as novas receitas. O Atlético-MG quer uma terceira via, um modelo que nem culmine numa dívida impagável, nem ceda a operação da nova arena a terceiros.

Para que essas premissas sejam atendidas, os dirigentes atleticanos terão de conseguir todo o dinheiro da construção antes de as obras começarem. O custo ainda não foi definido. O que há é uma previsão razoavelmente segura do dinheiro que Nepomuceno já conseguiu. Se os conselheiros aprovarem seu plano, serão arrecadados R$ 250 milhões com a venda de metade de um shopping que o time detém em Belo Horizonte, outros R$ 60 milhões com a negociação do nome do estádio para a construtora MRV, e mais R$ 100 milhões em vendas de cadeiras cativas, dos quais o banco BMG garante a compra de 60% dos lugares. A soma das três receitas chega a R$ 410 milhões, valor no qual o presidente terá de enquadrar o custo da obra para não ter de mexer muito em sua previsão. Os orçamentos estão a caminho.

A parte sensível para os conselheiros é o shopping. O Diamond Mall, localizado no bairro nobre de Lourdes, pertence ao Atlético-MG e está arrendado para a Multiplan até 2026. O clube recebe anualmente uma renda de quase R$ 10 milhões, referente a um percentual do que a operadora do local arrecada. O plano de Nepomuceno é vender 50,1% para a companhia em troca dos R$ 250 milhões para dar a “entrada” na nova arena. Há conselheiros reticentes. O presidente quer convencê-los de que o negócio shopping está em decadência no mundo inteiro e que, para um time de futebol, uma arena multiuso pode ser muito mais efetiva nos aspectos esportivo e financeiro.

A construção é uma coisa. A operação, outra. O dirigente atleticano calcula que o novo estádio vá gerar R$ 50 milhões por ano em receita e gastar R$ 19 milhões com suas despesas. Sobrarão, nos cálculos da direção alvinegra, R$ 31 milhões líquidos para o futebol. Um pouco mais que os R$ 28,5 milhões que o clube tem recebido em bilheterias com seu acordo no Independência, porém com potencial para elevar esse valor com patrocínios e shows. A localização do terreno, que será doado ao Atlético-MG também pela MRV, parece ser propícia para essas novas receitas, uma vez que o bairro Califórnia está na região metropolitana e tem bom acesso ao transporte público – contexto que alguns estádios da Copa não têm.

A inspiração de Nepomuceno é italiana. A Juventus virou referência no assunto depois que construiu um estádio para 41.500 torcedores por ‎€ 155 milhões – os mineiros querem 41.800 lugares. À época da inauguração, em 2011, o valor era mais baixo do que quase todos os orçamentos da Copa de 2014. De lá para cá a equipe foi campeã italiana seis vezes. Seu faturamento com matchday – como os europeus chamam as receitas ligadas ao estádio e ao dia do jogo – mais que triplicou. Passou de ‎€ 12 milhões na temporada de 2010-2011 para ‎€ 43 milhões em 2015-2016. É o tipo de efeito que o cartola mineiro quer ver nas contas do Atlético-MG a partir do momento em que tiver controle sobre seu estádio. Hoje, na Arena Independência, com a qual tem contrato, o clube recebe apenas as bilheterias e partes pequenas de outras receitas. Camarotes, bares, estacionamento, entre outros, estão nas mãos da operadora BWA.

Ao menos no papel, por enquanto, parece haver pouca brecha para o plano de Nepomuceno dar errado. Com o modelo que adotou, o cartola se esquiva de graves problemas enfrentados por Atlético-PR e Corinthians, os clubes que fizeram questão de manter a operação de seus estádios. Em primeiro lugar, ambos dependeram de concessões públicas para levantar dinheiro – os paranaenses contaram com aportes das esferas municipal e estadual que não foram feitos na totalidade, e os corintianos caíram no conto dos títulos que dariam isenção fiscal a quem os comprasse e encalharam. Em segundo lugar, como dependeram de financiamentos, ambos têm de lidar com as crescentes taxas de juros em voga no Brasil. Se o dirigente do Atlético-MG conseguir levantar todo o dinheiro para a construção da nova arena de fontes privadas, como BMG e MRV, e tiver quase tudo na mão para evitar empréstimos bancários, terá conseguido se livrar dos caminhos tortuosos que adversários enfrentam até hoje. E talvez construir a arena com melhor custo-benefício do futebol brasileiro.

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